sábado, 15 de julho de 2017

A Caridade (Augusto Silva)

O dr. Augusto Silva, que hoje empresta seu nome à praça central e a um Centro Espírita na cidade, é nas palavras de Firmino COSTA [1908, n. 17] “a maior intelectualidade que Lavras tem produzido”. Foi médico, escritor e Agente Executivo (prefeito) desta cidade entre 1893 e 1894. Alma caridosa, assim escreveu sobre esta virtude:

Qual flor que expande seus aromas, descuidosa dos que os aspiram, assim a caridade espalha benefícios e consolações sem lhe dar de saber quem os recebe; também semelha o córrego que refresca e alenta as ervas da ribeira, quer sejam boas ou más, e vai serpeando sem voltar para colher o prêmio de seus benefícios. Não há muitos que compreendam a caridade, ai! Não! Dar e esquecer é altíssima virtude, que sobre excede quantas possam enobrecer o homem.

Segue outro poema póstumo de Augusto Silva, publicado em O Município em 17 de maio de 1914.


A Caridade

A caridade é a excelsa entre as virtudes.

Não se limita, porém, a caridade à minguada esmola que se atira ao pobre, nem é tampouco a frouxa dó que nos inspiramos males alheios. Na esmola mal empregada inclui-se o alento à preguiça; a dó trai nossa ignorância do muito ou do pouco que a cada um toca padecer, em ordem ao seu futuro progresso.

A caridade é varia, e tanto pode manifestar-se em nossos atos quanto ocultar-se em nossos pensamentos: pensar direito, honesto e bem, é obrigar o próximo a pensar conosco.

É tão poderosa a caridade que o Cristo disse a seus discípulos que ele só queria caridade e não sacrifício, e Paulo declarou que ele estaria falto de todas as virtudes se não tivesse caridade. Ela é a que nos manda cegar-nos às fraquezas de nosso próximo e abater-nos em nosso íntimo abaixo de todos; ela é a que nos arremessa a dar batalhas aos vícios e aos crimes, ainda que daí nos venha a inimizade dos poderosos; ela é a que nos incende no amor do progresso e da civilização, sem os quais não se estabelecerá o Reino de Deus neste planeta; ela é a que nos obriga a ensurdecer às súplicas dos que nos são mais caros, quando eles, ignorantes, procuram domar-nos ao farisaísmo e ao cesarismo; ela é a que promove a aliança entre as seitas odientas; ela é a que apaga as diferenças de raças; ela é, enfim, a que espedaça as barreiras entre diversas nações, incutindo-lhes não serem as bandeiras varias mais que trapos flamantes com que os demônios encarnados assanham a bruteza dos povos. É, pois, a caridade a suma de todas as virtudes; é a radiância em nossa alma do Amor Divino.

Como estudioso, o dr. Augusto Silva se dedicou a análise de várias religiões, até mesmo o budismo. Tornara-se fervoroso adepto do espiritismo, cuja doutrina sabia expor e defender com segurança e penetração admiráveis. Faleceu em 19 de dezembro de 1905.

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