sábado, 14 de fevereiro de 2015

Lavras do Funil (Saint-Adolphe, 1845)

LAVRAS DO FUNIL. Pequena Villa da provincia de Minas Geraes, 15 legoas ao nordeste da cidade de Campanha, e 40 ao oestesudoeste da d’Ouro-Preto, em 21 graos 17 minutos de latitude. Teve principio em 1720, época em que se descobriram em suas adjacencias alguns vieiros d’ouro abundantes que forão lavrados pelos Paulistas, aos quaes se aggregárão muitos dos moradores da provincia, os quaes, applicando-se especialmente ao amanho e cultivo das terras, vendião por alto preço aos mineiros os viveres de que necessitavão. Havia-se edificado uma igreja a N. S. da Conceição, que foi tida em conta de parochia desde o anno de 1724, posto que não alcancasse definitivamente este titulo senão no anno de 1813, por uma resolução regia de 19 de Julho, que a annexou ao districto da Villa de São-João-d’ElRei. Foi freguezia a final creada Villa por lei de 13 d’Outubro de 1831, que lhe assignalou por districto o termo de sua freguezia e o de Dores-do-Pantano. A maior parte das ruas que ainda estão por calçar, são tortuosas; só uma é direita e se distingue por sua largura, tendo num topo a igreja matriz e noutro a igreja de Santo Antonio. As casas de sobrado são raras. No alto existe outra igreja, da invocação de N. S. do Rozario, que se avista de longe. Construiu-se nesta vila uma cadeia cujo primeiro andar serve de casa de câmara(...). Esgotadas as minas aplicaram-se os habitantes à agricultura, comércio, e outros ramos de indústria; assim observa-se neles certo ar de opulência que raramente se encontra naqueles que se obstinam na extração de ouro que se tornou raríssimo. Vê-se nessa vila oficinas de sapateiros e alfaiates. As mulheres fiam e fazem teias de algodão, ao passo que os escravos se ocupam em descaroçá-lo com um engenho próprio para este fim. O algodão fiado, como o que se acha em rama, é transportado para o Rio de Janeiro em bestas muares, e em carros puxados por bois que o levam até a vila de São João del-Rei. Vários ribeiros e rios fertilizam o distrito desta nova vila, o qual se acha circunscrito ao norte pelo Rio Grande, e ao sul pelo Verde, tributário do Sapucaí. Cultivam-se nele em abundância algodoeiros, e colhe-se igualmente grande quantidade de milho, arroz, feijões, laranjas, e vários frutos do país, posta de parte a lavra do trigo, depois que os europeus e americanos abasteceram de farinha todas as vilas e cidades marítimas do Brasil. Avalia-se a população d’este districto em 12,000 habitantes.

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Fonte: SAINT-ADOLPHE, J. C. R. Milliet de. Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo, do Imperio do Brazil. Paris: J. P. Aillaud, 1845, tomo I, pp. 556-557.

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